A semana anterior à REFENO (famosa regata
oceânica entre Recife e Fernando de Noronha), que fazia parte de nossa rota
rumo ao Caribe, foi muito agitada. Chegamos ao Iate Clube Cabanga, que organiza
a regata, no domingo dia 21 de Setembro, seis dias antes da data prevista para
a largada. Depois de uma travessia relativamente tranquila (para alguns e nem
tanto para outros) entre Maceió e Recife, decidimos comer um merecido churrasco
em uma das melhores churrascaria de Recife.
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Pré-largada |
Na segunda-feira começou a clássica função da
regularização do barco para a regata. Apresentação de certificado de medição,
inspeção da marinha, instalação da base de dados do Iridium para poder ter
comunicação em alto mar, compra das cartas náuticas faltantes, reunião de
comandantes e todas aquelas burocracias necessárias para obter a liberaçāo da
Marinha do Brasil para "lançar-se ao mar".
Dessa vez a Ani estava o tempo todo junto,
dormindo no barco, participando de tudo e super entusiasmada com a idéia de
participar da regata como tripulante, mesmo depois de ter passado mal na ultima
perna, por conta de haver ficado mareada por muitas horas.
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Largada |
O final da semana e da largada se aproximava
e eu acompanhava cuidadosamente a previsão do tempo para não ter nenhuma surpresa desagradável que pudesse
comprometer a motivação e o sucesso da velejada. Era minha intenção nessa perna apagar a "má impressão" que se formou na mente da Ani após o trecho entre Maceió e Recife. Nossa tripulação seria,
a princípio, cinco pessoas, mas como a previsão do tempo foi se modificando
no decorrer da semana (para pior), decidimos que a Ani não participaria da regata pois
sem dúvida a navegação que nos esperava pela frente seria muito dura. Na última
hora meu amigo Tonho, de Maceió, parceiraço de várias REFENOS e amigo de muitos
anos, me ligou e me avisou que também não poderia ir.
Acabamos com somente três tripulantes: eu,
o Ruy e o Marcel Miranda, outro amigo alagoano, velejador dos bons e também
grande parceiro de outras REFENOS.
Tudo organizado, no sábado de madrugada
saímos do Cabanga para o PIC (Pernambuco
Iate Clube) pois devido ao nosso calado precisávamos sair com a maré alta, que
acontecia as 5:30 da manhã naquele sábado, caso contrário corríamos um grande
risco de ficar encalhados e perder a largada da regata.
Ruy no início da Regata |
Resultado: a correnteza nos arrastava para
trás, não tínhamos controle sobre o barco e acabamos batendo na marca, que tinha
dois fiscais dentro, pois na verdade a bóia era um bote. Um deles,
vendo nosso desespero, nos estimulou a seguir em frente, no entanto decidimos
pagar um 360° (penalidade prevista na regra nessa situação) invocando o mais
nobre espírito esportista que todo competidor deve ter e nos tornando assim os
primeiros idiotas da história das REFENOS a pagar um 360 na montagem da única
bóia da regata!! Começamos bem!!
Em seguida, como se tudo não passasse de uma ilusão, o vento voltou a soprar e o Blue Wind começou a velejar com toda elegância que lhe é peculiar, deslizando graciosamente nas águas de Recife e iniciando finalmente sua jornada rumo a Fernando de Noronha.
Em seguida, como se tudo não passasse de uma ilusão, o vento voltou a soprar e o Blue Wind começou a velejar com toda elegância que lhe é peculiar, deslizando graciosamente nas águas de Recife e iniciando finalmente sua jornada rumo a Fernando de Noronha.
Eu e Ani na Praia do Leão |
Ao cair a noite o vento já estava na casa
dos 25 kn e as ondas chegavam próximas dos 3 metros e meio, deixando a navegada
bastante desconfortável. Na madrugada de sábado para domingo já estávamos com
todas as velas reduzidas e, mesmo assim, o Blue Wind mantinha um ritmo entre
7,5 e 8,5 kn, muito bom considerando que o barco está muito pesado pela
quantidade de equipamentos que carrega. Somente na madrugada de domingo para segunda
é que o vento deu uma acalmado nos possibilitando finalmente colocar todos os
panos para cima.
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Noronha |
Fomos o 24° barco a cruzar a linha, entre um
total de 70, e o 4° na nossa classe. Tudo parecia estar se encaminhando para um
ótimo resultado… Não fosse por erro em nosso certificado de medição…
Chegar de barco em Fernando de Noronha… Uma
sensação única, indescritível! Essa deve ter sido a minha oitava ou nona REFENO, mas
sempre é como se fosse a primeira. Essa ilha é mágica, tem uma energia única e
mesmo estando exaustos da regata sentimos uma enorme sensação de bem estar
quando fundeamos no porto de Noronha, provavelmente um dos únicos portos do mundo onde você é
calorosamente recepcionado pelos golfinhos, essas adoráveis "crianças do
mar" que parecem estar sempre de alto astral!
Saldo da regata: tripulantes de vários
barcos passando mal pela condição incomum de mar pesado nessa época e vários abandonos, sendo que um catamarã capotou e afundou. Por sorte toda a tripulação foi resgatada, sem maiores
consequências, exceto pelo susto.
A semana em Noronha foi perfeita, a Ani
chegou na segunda-feira de avião e ficamos até sábado na Ilha, aproveitando
cada minuto no paraíso.
Na quarta-feira saiu o resultado da regata.
Todos ansiosos, será que ganhamos? Talvez não, mas no mínimo esperávamos subir
ao pódio. Velejamos muito bem, andamos
rápido, tínhamos certeza que havíamos exigido tudo do barco… Chegávamos a superar os 10 knt. de velocidade em alguns momentos, literalmente surfando as ondas, que a essa altura já vinham de sudeste, ajudando bastante na performance do barco.
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Chegando em Noronha |
Vejam só qual não foi nossa surpresa quando vimos o resultado de nossa classe, a RGS A: Blue Wind 1° lugar… Ops, faltou um zero… Na verdade, 10° lugar!! Caracas!! Como pode ser? Fizemos tudo tão certinho… Pois é, mais tarde, quando me refiz do "balde de água fria", parei para comparar nosso rating com o dos concorrentes, na tentativa de entender o que estava acontecendo, e só então me dei conta do absurdo que é a regra da RGS no Brasil. Barcos similares ao nosso, como por exemplo o Delta 45, que deveriam ter ratings muito parecidos, tinham ratings absurdamente menores a ponto de nosso barco "pagar" mais de 4 horas em uma regata de 40 horas como essa. Começo a entender porque essa regra está cada vez mais sendo abandonada pelos competidores mais sérios que estão migrando para a ORC, uma regra muito mais justa e profissional que a RGS.
Comemorando a chegada!! |
Mas como diz o ditado, o importante é
competir! Seja em primeiro, seja em décimo, mais uma perna de nossa aventura
foi concluída com êxito. Agora falta apenas um trecho em território brasileiro:
Noronha - Fortaleza, mais 360 milhas para chegar ao último porto verde e amarelo.